Descrição:
Vai dar Raia – Memórias do Contrabando em Portugal é um projeto de investigação, de recolha e disponibilização de histórias e memórias e de registo de documentos e objetos associados ao contrabando nas regiões de fronteira entre Portugal e Espanha, abrangendo os concelhos dos distritos de Bragança e Guarda, nomeadamente Miranda do Douro, Mogadouro, Freixo de Espada à Cinta, Figueira de Castelo Rodrigo, Torre de Moncorvo, Carrazeda de Ansiães e Vila Nova de Foz Côa.
O projeto decorre da parceria entre a Associação de Municípios do Douro Superior de fins específicos e a associação Keep em colaboração com o programa Memória para Todos, através do pólo de investigação História, Territórios e Comunidades – CFE NOVA FCSH.
Os depoimentos orais recolhidos recordam as práticas do contrabando recuando ao tempo da Guerra Civil de Espanha (1936-1939) até à abertura do mercado único europeu e consequente abolição das fronteiras fiscais e dos controlos aduaneiros (1993).
Foram entrevistadas mais de 50 pessoas que de alguma forma conviveram direta ou indiretamente com a prática do contrabando, como contrabandistas, passadores e entidades policiais (Guarda Fiscal, Carabineiros ou Guardia Civil) e outros elementos das comunidades locais.
Os testemunhos recolhidos refletem a representatividade e o impacto do contrabando; contando a sua diversidade e dimensão, dando conta das motivações dos contrabandistas, as mercadorias contrabandeadas, o papel da mulher e das crianças, as relações familiares, domésticas e outras atividades económicas, as estratégias utilizadas no transporte, as dificuldades e obstáculos encontrados nos percursos, as relações com as entidades policiais e com o território espanhol, assim como o contrabando realizado durante a Guerra Civil de Espanha e a II Guerra Mundial. Ao mesmo tempo contam-nos uma multiplicidade de facetas que têm a ver com os quotidianos, a paisagem, os acontecimentos, o diálogo e as tensões entre a tradição e a modernidade, as mudanças e permanências, tudo quanto tem composto a vida destas comunidades e territórios nas últimas décadas. Ficamos assim a conhecer mais, entre tantos outros aspetos, sobre o impacto dos aproveitamentos hidroelétricos e a construção de barragens ao longo do rio Douro entre as décadas de 1950 e 1960; a importância da emigração na década de 1960; como foi vivido o 25 de Abril de 1974 e as transformações que marcaram as últimas décadas do século XX.