19/07/24, Coletivo de Mulheres Maria da Terra, Flores

Memórias da Reserva da Biosfera do Cerrado

Jesiel Campos é natural do Nordeste Goiano, tem raízes quilombolas, é professor de formação e hoje dedica-se à criação de tecnologias com objectivos sociais. Nesta entrevista, Jesiel conta-nos o seu percurso pessoal e profissional profundamente enraizado no Cerrado. Após a sua formação em educação, licenciatura em Geografia e pós-graduação em Gestão de Projectos Ambientais, iniciou carreira como professor, leccionando em comunidades locais e em Brasília. No entanto, a sua ligação íntima ao território e às práticas agrícolas tradicionais motivaram-no a reorientação do seu percurso, em 2010, abandona a sala de aula para se dedicar exclusivamente ao apoio da agricultura familiar com a criação Instituto Socioeconómico de Desenvolvimento Social. Descreve o seu trabalho de inovação tecnológica ao serviço das comunidades rurais, destacando a criação da Casa de Farinha Móvel e da Máquina de extração de polpa de frutos como respostas práticas às dificuldades enfrentadas pelos pequenos produtores. Jesiel sublinha a opção pela patente social, permitindo a replicação livre das tecnologias para benefício comunitário, rejeitando a lógica de exploração comercial. Para si preservação do Cerrado é essencial no seu trabalho, a conservação do bioma é vista como intrinsecamente ligada à criação de soluções económicas sustentáveis que garantam a subsistência digna das comunidades locais. A importância da Reserva da Biosfera do Cerrado é abordada como reconhecimento internacional do valor ecológico da região e como instrumento estratégico para reforçar a consciência ambiental. Jesiel propõe uma visão de desenvolvimento rural, em que políticas públicas e iniciativas comunitárias devem articular-se de forma transparente e eficaz para assegurar a sustentabilidade ambiental, social e económica do Cerrado e das suas populações tradicionais.