15/07/24, Estancia Jacy

Memórias da Reserva da Biosfera do Cerrado

Os antepassados de Francisco Marshall fixaram-se na região do Cerrado há mais de 200 anos. Conta-nos como depois do esgotamento dos recursos mineiros, principalmente o ouro, a comunidade se virou para a agricultura e a pecuária. Esta transição histórica marca a origem de uma tradição agrícola que persiste até hoje, agora fortemente influenciada pelos desafios contemporâneos das alterações climáticas e pela necessidade de diversificação produtiva. Um dos temas centrais desta entrevista é a crítica à ausência de retorno económico para quem preserva a natureza. Francisco defende a criação de mecanismos de certificação e de pagamento por serviços ambientais como forma de valorizar economicamente a preservação, apontando a necessidade de políticas públicas robustas e de maior apoio institucional. Fala, também, sobre as ameaças contemporâneas representadas pelo parcelamento irregular do solo e pela expansão urbana desregulada, sublinhando a importância dos planos directores municipais e do ordenamento territorial. Francisco elogia os esforços estaduais de zoneamento, mas alerta para a urgência de acções locais mais eficazes. Reflete sobre a transformação cultural de Alto Paraíso, destaca a influência de movimentos alternativos, espiritualistas e ecologistas desde a década de 1980. Esta convivência de diferentes visões tem permitido a construção de uma sociedade relativamente equilibrada, livre de conflitos religiosos, embora persistam desafios de organização social. Por fim, Francisco critica a actuação da UNESCO na criação da Reserva da Biosfera, defendendo a necessidade de transformar este reconhecimento em acções concretas que beneficiem as comunidades locais. O seu discurso apela a um reforço do diálogo institucional, à valorização da participação social e à criação de um modelo de desenvolvimento sustentável genuinamente enraizado no Cerrado.