17/07/2024, PREVFOGO, Cavalcante, Goiás

Memórias da Reserva da Biosfera do Cerrado

Marlândia Fagundes recorda com ternura a sua infância em Cavalcante, marcada pelas brincadeiras junto ao Rio Lavapés. Descreve uma vida simples na cidade, onde abundavam as frutas naturais e onde, apesar da alimentação ser pouco variada, era extremamente saudável – algo que associa à boa saúde das pessoas naquela época. O seu percurso como professora começou ainda jovem, quando teve de substituir, de forma inesperada, uma directora de uma escola vizinha. A experiência revelou-se marcante e acabaria por orientar o seu caminho profissional. Iniciou a sua trajectória assim no ensino, tornando-se mais tarde directora escolar. Enfrentou muitas dificuldades, nomeadamente a escassez de materiais escolares, mas, apesar da precariedade, os alunos aprendiam com eficácia e havia um profundo respeito pela figura do professor. Como Cavalcante tinha apenas o ensino até à oitava classe, Marlândia teve de viajar sozinha para concluir o magistério em Inhumas, cidade próxima de Goiânia. Recorda os desafios das estradas de terra e das longas distâncias percorridas por quem, como ela, procurava formação fora da sua terra natal. Após concluir os estudos, foi indicada para um concurso público, no qual foi aprovada, tornando-se professora efectiva. Ao longo da sua carreira, Marlândia viveu episódios marcantes com alunos e testemunhou como problemas sociais, como a fome, interferiam directamente no processo de aprendizagem. Defensora do saber tradicional do Cerrado, faz uso frequente de chás medicinais – como capim-cheiroso, erva-cidreira e boldo –, cultivados no seu próprio quintal. Valoriza profundamente o estilo de vida simples, o contacto com a natureza e as relações de proximidade características de Cavalcante, que contrastam, segundo a própria, com os desafios e o ritmo acelerado da vida moderna.