20/07/2024, Caverna Terra Ronca 1

Memórias da Reserva da Biosfera do Cerrado

Maria Cober Melo é natural do Nordeste brasileiro, fixou residência na região de Terra Ronca, no estado de Goiás, há mais de 36 anos, após o casamento com um habitante local.Maria partilha nesta entrevista, trajectória as sua vida, marcada por desafios, pelo compromisso com a comunidade e por uma profunda dedicação ao artesanato como forma de expressão cultural e fonte de rendimento. A sua infância foi marcada por deslocações frequentes, consequência do trabalho temporário do pai como vaqueiro, o que dificultou o acesso regular à escola. Após criar os filhos, Maria reencontrou no artesanato um espaço de realização pessoal e de reconfiguração do seu papel social. Participa activamente no Colectivo de Mulheres Guardiãs do Cerrado, uma iniciativa que promove a produção de bio jóias com sementes nativas, a gastronomia local e a valorização dos saberes tradicionais. Através de feiras mensais organizadas com o apoio de instituições públicas e parcerias locais, o grupo é reconhecido pela contribuição das mulheres para a preservação cultural e ambiental da região. Maria relata as dificuldades enfrentadas pelas integrantes do colectivo, como a sobrecarga de responsabilidades domésticas, a escassez de tempo e, por vezes, a resistência de alguns maridos ao seu envolvimento em actividades fora do lar. Ainda assim, o grupo tem conquistado novos espaços. Para Maria, o Cerrado é uma fonte de vida e de saberes ancestrais, cuja valorização depende do reconhecimento do seu potencial cultural e ecológico. Embora não conheça em profundidade todas as paisagens do Parque de Terra Ronca, revela um profundo respeito pela natureza e pelos conhecimentos transmitidos ao longo das gerações. Reconhece, ainda, o impacto dual do turismo – por um lado, gerador de oportunidades económicas; por outro, um risco à preservação ambiental e à integridade cultural das comunidades locais.