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ENTREVISTAS


Entrevistas:
Vasco Galante
Data da entrevista:
30/09/2022, Parque Nacional da Gorongosa, Chitengo, Moçambique
Projeto:
Resumo:
Vasco Galante recorda o seu primeiro contacto a Gorongosa – decorrente da sua primeira ida ao cinema -, e o contraste dessa memória com o cenário de degradação que encontrou quando visitou o PNG pela primeira vez, em 2005. A par do mau estado das infraestruturas, lembra a ausência de fauna bravia. Um mês passado sobre essa visita, foi contactado por Greg Carr, que lhe apresentou o seu projeto para reabilitar o Parque Nacional da Gorongosa. O empresário americano pretendia restaurar a sua fauna bravia e promover o desenvolvimento comunitário da Gorongosa, encontrando-se, à data, em negociações com o governo moçambicano para alcançar esse propósito. O projeto tinha, assim, duas vertentes principais: a preservação da biodiversidade e o desenvolvimento social e humano das comunidades estabelecidas na chamada “zona tampão”. Desafiou então Vasco Galante a integrar a sua primeira equipa de trabalho, que aceitou o convite para ser o Diretor de Desenvolvimento Turístico do projeto. Descreve os desafios da execução do projeto, recordando a desconfiança inicial face as suas intenções e as complexidades da interação com as comunidades locais, em particular do ponto de vista linguístico e das aprendizagens relacionadas com as estruturas tradicionais dessas comunidades. Relembra o processo de reintrodução da fauna bravia emblemática do Parque, entretanto desaparecida com a Guerra Civil de 1977 a 1992, bem como de árvores nativas. Fala dos motivos que levaram Greg Carr a querer reabilitar a Gorongosa, recorda os contactos feitos e como o projeto foi reunindo apoios, os trabalhos de reconstrução do acampamento de Chitengo (bungalows, restaurante, Centro de Edução Comunitária), a integração da Serra da Gorongosa na área do Parque, a criação de um Centro de Investigação Científica, o desenvolvimento do produto turístico, o lançamento dos projetos de produção de café, caju e piripiri e como estes se tornaram um ativo económico e gerador de emprego. Destaca como os diferentes Planos de Gestão do Parque têm colocado sempre o enfoque na educação e na formação. Afirma que esse caminho só foi possível com a colaboração e envolvimento da sociedade, das famílias, de doadores específicos para os programas, como o Centro de Educação Comunitária (2010), o Clube das Raparigas (2016/2017), as Clínicas Móveis de Saúde (com os agentes polivalentes na saúde), a construção e equipamento das escolas (que depois são geridas pelo Ministério da Educação), a criação de HUB❜s científicos, do Centro de Investigação Científica da Biodiversidade. Segundo Vasco Galante, ainda é preciso criar mais cadeias de valor para a sociedade, melhorar a agricultura, criar as condições de acesso ao ensino (pré e básico), criar as condições de acesso das jovens raparigas ao ensino secundário. Salienta a importância patrimonial da cerimónia tradicional, "ntsembe", que homenageia o espírito do Chitengo, o primeiro habitante local que se transformou em leão branco depois da sua morte. E que todos os anos é vivenciada, sob a orientação de um descendente da família do Chitengo, realizando-se em volta da árvore sagrada, de nome "Mutondo", no Acampamento do Chitengo, para pedir aos leões a proteção e a hospitalidade para as comunidades, profissionais e visitantes do Parque. Entende que este é um “projeto-modelo que se libertou do cunho do colonialismo. Há um desenvolvimento humano, há salários, investe-se na escolaridade, na igualdade do género”. É, como afirma, um projeto sustentado nas comunidades.
Ficha Técnica
Vasco Manuel Nunes Galante Entrevistado
Maria Fernanda Rollo Entrevistador
Pagárrenda Editor técnico