16/07/24, Estancia Jacy

Memórias da Reserva da Biosfera do Cerrado

Vinícius Rossignoli é natural de Goiânia e cresceu em Brasília. Nesta entrevista Vinícius conta-nos a relação especial que tem com o Cerrado, bioma que identifica como fundamental para a sobrevivência humana. Recorda as práticas alimentares tradicionais da sua família e do progressivo afastamento dos saberes ligados aos frutos nativos, resultado da urbanização e da modernização alimentar. A redescoberta das práticas tradicionais deu-se através da gastronomia, impulsionada pela necessidade de encontrar uma identidade própria enquanto chefe de cozinha. Valendo-se de uma formação académica em publicidade, administração e ciências da informação, Vinícius foca-se na gastronomia centrada na utilização de produtos endógenos do Cerrado, como o piqui, o baru, o cumbaru e o buriti, integrando técnicas culinárias europeias com ingredientes locais. O seu trabalho explora a riqueza nutricional e cultural dos frutos do Cerrado, enquanto denuncia o preconceito histórico que marginalizou estes alimentos e promove actualmente a sua revalorização. Destaca a importância dos encontros com chefes griôs ? detentores de saberes tradicionais ? como mecanismos de transmissão e preservação cultural. Aborda as práticas de conservação tradicionais, como a carne de lata e a defumação, e reflete sobre as dificuldades de integração dos produtos locais nas cadeias de consumo modernas. Vinícius propõe práticas de educação alimentar desde a infância como estratégia de combate ao preconceito e de fortalecimento das economias locais sustentáveis. Reflete sobre a essência da gastronomia enquanto acto cultural e espiritual, capaz de fortalecer identidades, criar laços comunitários e garantir a continuidade de práticas de vida sustentáveis no Cerrado.