17/07/24, PREVFOGO, Cavalcante, Goiás

Memórias da Reserva da Biosfera do Cerrado

João Ramos, nasceu no Rio de Janeiro, foi viver para Cavalcante por motivações espirituais, onde se estabeleceu definitivamente em 2000. Após viver inicialmente numa zona rural com um grupo espiritualista, integra-se na cidade e faz uma formação como condutor de ecoturismo, tendo exercido esta função durante uma década. A sua actuação estende-se ao associativismo e à participação em conselhos de turismo, meio ambiente e cultura, revelando uma compreensão crítica da construção das políticas públicas e do papel da sociedade civil. Conta-nos a história recente de Cavalcante: desde o esquecimento após o declínio do garimpo do ouro até à emergência do turismo ecológico e cultural. Particular destaque é dado à transformação vivida pela comunidade calunga do Engenho II, cuja articulação com o turismo permitiu não só a geração de rendimento, como também a afirmação identitária, a formação superior e a valorização de saberes ancestrais.João sublinha a necessidade de consciencialização comunitária quanto ao impacto do turismo e à preservação do meio ambiente. Considera o Cerrado um bioma estratégico, especialmente no que toca à regulação hídrica do território brasileiro, defendendo que a água limpa de Cavalcante é hoje o seu maior activo ambiental e económico. Aponta ainda riscos associados à pressão do agronegócio e à contaminação química, e propõe soluções como a criação de um selo verde local, capaz de valorizar os produtos agrícolas e artesanais oriundos de práticas sustentáveis. João encerra o seu testemunho reafirmando que ser do Cerrado é viver num território que guarda uma herança ecológica vital, e cujo equilíbrio é essencial para a sobrevivência de outros biomas, como a Amazónia e o Pantanal.