2022, Penha Garcia

Memórias de Penha Garcia

António da Conceição Nuno nasceu no campo, num lugar chamado Salva Leão em 1950. Do povoado resta apenas o nome, as ruínas de meia dúzia de casas e as recordações da família composta por 9 irmãos, mas que apesar de numerosa sempre viveram com tudo o necessário e sem exageros. Os pais viviam da agricultura e de algumas cabeças de gado que criavam e deram a possibilidade a ter frequentado a escola primária até ao dia em que foi proposto ao exame da quarta classe em Idanha-a-Nova. Dos 14 aos 20 anos, na companhia de quatro irmãos percorreu as veredas do contrabando, numa altura onde a atividade dava para amealhar algum dinheiro e orientar a vida dos que teimavam em não sair da aldeia. Cumpriu uma missão de 28 meses e meio na guerra da Guiné, que de forma simples e genuína resume a um tempo perdido. Chega á sua terra e 15 dias depois dá-se o 25 de Abril. É através de um rádio a pilhas que tem conhecimento que a revolução estava na rua. Aos 24 anos a determinação e insistência da mulher levou-o a emigrar para França. Em Paris nasceram dois filhos e quatro netos e por lá o casal permaneceu durante 37 anos. Começou por fazer um pouco de tudo, biscates como diz, até entrar numa grande empresa ligada às limpezas de escritórios, edifícios públicos e privados. Uma vida de muito trabalho, contudo, teve sempre presente que um dia iria regressar á terra raiana que o viu nascer. Já lá vão 11 anos... Agora os dias são passados entre Paris e Penha Garcia, mas quando fala deste pedaço de terra o coração bate mais forte ao afirmar que "isto aqui é terra de gente boa.