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PESSOAS
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CAETANO, Miguel de Barros Alves
Nota Biográfica:
Subscritor da SEDES nº 7 - Miguel de Barros Alves Caetano, como Funcionário Público
Nasceu a 26 de julho de 1935. Filho de Marcello Caetano. O avô materno era João de Barros, professor, republicano, democrata e maçon. O avô paterno era José Maria Alves Caetano.
Tinha dez anos quando acabou a Segunda Guerra Mundial e lembra-se das senhas de racionamento e de fabricar, com a mãe e os irmãos, uma cola artesanal para colar nos caixilhos das janelas e evitar que, em caso de bombardeamento, os vidros estilhacem.
Formação escolar e percurso académico
Foi o pai que o convenceu a seguir Direito, pois a sua preferência inicial era História.
Quando entrou para o curso, aos 17 anos, o pai entregou-lhe as chaves de casa. Ele e os irmãos frequentavam os cafés do Saldanha. Gostava de estudar em cafés. Divertia-se a jogar bilhar e a ir ao cinema.
Não se destacou como aluno. Gostava de Direito Público e Economia Política. Ainda na Faculdade, conheceu Jorge Sampaio, seis anos mais novo, através de um primo direito, Afonso de Barros.
Licenciou-se em Direito pela Faculdade de Direito de Lisboa em 1957, tendo-se especializado em planeamento regional e organização de empresas. Estagiou como advogado tendo Adriano Moreira como patrono. Adriano Moreira levou-o a assistir a questões relacionadas com a economia: arbitragem, assuntos de empresários, assembleias gerais. Chegou a inscrever-se na Ordem dos Advogados. Durante a crise académica de 1962, apesar de já estar casado e trabalhar, continuava ligado ao Grupo Desportivo de Direito. Encontrava-se no estádio universitário, a assistir a um jogo de râguebi do Grupo Desportivo de Direito, no dia do jantar no Castanheiro de Moura. Quando a polícia cercou o estádio, foi às cabines e telefonou ao pai a contar o que estava a acontecer. Não foi ao Castanheira de Moura porque o pai lhe pediu para ficar em casa a tomar conta da mãe, que estava doente.
Percurso profissional
Foi trabalhar para o Banco Fonsecas, Santos e Vianna, que posteriormente se fundiu com o Banco Burnay, dessa fusão resultando o Banco Fonsecas & Burnay. Quando o Banco de Fomento Nacional se encontrava em organização concorreu para técnico do gabinete de estudos e foi admitido como estagiário, numa altura em que entrou para o mesmo gabinete João Salgueiro, brilhante aluno do ISCEF e presidente da JUC (Juventude Universitária Católica). Durante este período a economista Manuela Silva, que fora presidente da Juventude Universitária Feminina, lançou um projeto inovador «de aplicação de técnicas comunitárias» e pediu ajuda ao Banco de Fomento Nacional, que o indicou como especialista em planeamento regional. Saiu do BFN por desentendimentos com a administração.
No final da década de 1950, quando começou a trabalhar, uma das figuras de quem se sentia próximo era António Alçada Baptista. No rescaldo das eleições de 1958 e das intervenções do Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, identificava-se com os católicos que, como António Alçada Baptista, questionavam a relações entre a Igreja Católica e o Estado Novo e encarava com uma expectativa muito positiva a renovação da Igreja Católica durante o pontificado de João XXIII e com as perspetivas abertas pelo Concílio Vaticano II.
Seguiu com atenção O Tempo e o Modo e a revista Concilium, e identificava-se com as posições de João Bénard da Costa e Pedro Tamen. Estas revistas eram particularmente importantes no período do início da sua vida profissional. Após a experiência no Banco de Fomento Nacional, foi trabalhar para a Metalúrgica Duarte Ferreira, no Tramagal. Andou três anos «pela província» Durante este tempo as revistas mencionadas eram uma forma de se informar sobre «o que se estava a passar» em Lisboa. Enquanto estava no Tramagal deu as chaves do seu apartamento na Avenida dos Estados Unidos da América ao Afonso de Barros e ao Jorge Sampaio, para o utilizarem, se fosse necessário. Não sabe se chegaram a utilizá-lo.
A sua colocação profissional na província também não o impediu de manter contacto com João Salgueiro, que fora destacado pelo banco para trabalhar no Secretariado Técnico da Presidência do Conselho, sendo responsável pela elaboração e acompanhamento dos Planos de Fomento.
Ao longo da década de 1960 desenvolve a relação de amizade com António Alçada Baptista, oito anos mais velho do que ele, que conheceu por intermédio da mulher, de quem já era amigo. Depois do casamento costumava encontra-lo na Serra da Estrela, durante as férias de verão.
Apesar da relação pessoal próxima, considera que ele e António Alçada Baptista pertenciam a grupos diferentes: «o António e o seu grupo viviam muito à volta da problemática do personalismo cristão, de Emmanuel Mounier, e eu estava muito mais envolvido na transformação pelo desenvolvimento económico-social, conjuntamente com pessoas como a Manuela Silva e o João Salgueiro, mas naquela altura as diferenças esbatiam-se muito em função de objectivos comuns».
Vê-se a si mesmo como o elemento de uma geração que não quis fazer a revolução, mas quis modernizar o país, aumentando a produção e riqueza a melhorando a sua distribuição.
Por 1965, em resposta a um convite de João Salgueiro, assina um documento a pedir o regresso do bispo do Porto. Assinou juntamente com o João Bénard da Costa. Essa assinatura, trouxe-lhe alguns dissabores e atenções pessoais de D. António Ferreira Gomes após o seu regresso do exílio.
De regresso a Lisboa, António Alçada Baptista, assim como a Editora Moraes, torna-se uma referência para compreender a atualidade política. A partir de 1967 falam de liberdade e igualdade, António Alçada Baptista mais de liberdade, Miguel Caetano mais de igualdade, manifestando interesse no socialismo cristão. Chegou a propor-se como sócio da livraria Moraes e colaborar na gestão e desenvolvimento da editora.
Quando a PSP proibiu a reunião da Pragma na Sociedade Nacional de Belas Artes, Miguel Caetano estava presente, apesar de não ser sócio. Fora levado por João Salgueiro. Foi com o João Cravinho e o Jorge Sampaio para o Patriarcado de Lisboa. Quando a polícia chegou quase todos fugiram para o interior do Patriarcado e só os três ficaram cá fora.
Um grupo de amigos de Miguel Caetano foi para a CDE – José Manuel Galvão Teles (que conhecia através das atividades católicas, apesar de Marcelo Caetano não pertencer à JUC) e Francisco Pereira de Moura. Mas, por opção pessoal, decidiu não ter atividade política.
Entre 1968 e 1974 organizou e dirigiu os serviços de planeamento regional no Secretariado Técnico da Presidência do Conselho. Colaborou e orientou a preparação e elaboração do III Plano de Fomento (1968-1974) e os estudos e propostas da política de ordenamento de território de Portugal continental.
O seu trabalho no Secretariado Técnico da Presidência do Conselho surgiu de um convite de João Salgueiro. Em entrevista lembra que só no II Plano de Fomento, coordenado por Marcello Caetano, surgiu a preocupação de definir um modelo de desenvolvimento para Portugal. Foi coordenador de um grupo de estudos ad hoc, que tinha como objetivo propor uma política no quadro da preparação e execução do III Plano de Fomento. Criaram a orgânica que definia regiões e sub-regiões e apresentaram uma proposta para uma política de ordenamento do território de Portugal continental, a longo prazo, em termos urbanos, industriais e rurais.
Trabalhava no Secretariado Técnico da Presidência do Conselho com João Salgueiro, João Cravinho, Correia Gago, Ramalheira, Requeira. Era chefe de divisão do planeamento regional, mas não era do quadro. Dependia do ministro de Estado da Presidência, Mota Veiga. O chefe de gabinete de Mota Veiga era o Joaquim Silva Pinto, que fora seu colega no liceu Camões. A PIDE colocou obstáculos à sua entrada para o serviço. Silva Pais pretendia que ele escrevesse uma carta em que se comprometesse a não ter atividade política. Miguel Caetano recusou.
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Miguel Caetano